E se eu fosse um Executivo da Capcom?

Creio que todos sabem que a Capcom está fazendo uma grande reestruturação de pessoal, demitindo muitos funcionários, reorganizando grupos e fazendo novas contratações, não é? Isso é por um motivo objetivo e simples de entender. Eles estão vendo em suas vendas e aceitação no mercado números que não condizem com suas metas. Ao que parece uma mudança radical de pessoal deve alterar diversas coisas, principalmente no estilo dos jogos e a Capcom espera que isso seja uma mudança para melhor, e nós, fãs, também, claro.
Outra coisa que todos já sabem é que o criador de Resident Evil, Shinji Mikami, atualmente trabalhando para a Tango Gameworks, empresa de propriedade da Bethesda Softworks, está trabalhando em um novo jogo de sua autoria chamado The Evil Within. De acordo com muitas das entrevistas que Shinji deu nas últimas semanas ele pretende trazer o “terror” do estilo qual criou em Resident Evil, o Survivor Horror, de volta com sua nova criação e mostrar como é se sentir na pele de um verdadeiro sobrevivente de uma história de horror.

Analisando as entrevistas recentes de Shinji pude avaliar duas coisas importantes:

1 – Na história de seu novo jogo, o terror será focado no lado psicológico do personagem que o jogador estará controlando. O inimigo não será criado através de vírus e parasitas que podem ser vistos, analisados e combatidos com armas de fogo e poderio militar. Segundo o criador de The Evil Within, dessa vez o inimigo será o próprio mal interior, aquele lado sombrio e obscuro presente na alma de todo ser humano. Acredito que quando o criador fala em “terror psicológico” ele provavelmente refere-se a algum personagem com capacidade de entrar na mente de uma ou muitas pessoas e atacá-las dessa forma, algo como Freddy Krueger fazia nos sonhos em A Hora do Pesadelo. Claro que nada sobre a história do jogo foi divulgado ainda, então essa é apenas uma teoria minha sobre o que pode estar por vir, posso estar errado, contudo, foi isso que eu entendi principalmente pelo título The Evil Within (O mal interior).
2 – Outra entrevista de Shinji levantou uma questão que eu sempre concordei em partes. O criador de Resident Evil disse que de acordo com sua opinião, jogos de Survivor Horror com muitas continuações perdem o seu “terror”, pois a cada novo título na franquia, mais é revelado sobre a história e o jogador passa a não temer mais porque ele já conhece aquilo que está enfrentando. Eu concordo com essa teoria, pois sempre aleguei que personagens como Leon e Chris, após mais de quinze anos e tantas batalhas confrontadas contra BOW’s por todo o mundo já não mais se impressionavam com quaisquer que fossem os inimigos que teriam de encarar. A verdade é que, para sobreviventes como Leon e Chris, os BOW’s são poderosos, mas eles sabem que esses inimigos não são imortais nem à prova de balas, o que os torna mais alvos que eles precisam acertar se quiserem continuar vivos. Dessa forma, mesmo que eles sintam medo, eles sabem como confrontar seus adversários.

Com base nessas duas questões assimiladas, eu penso o que deveria fazer estando entre os sobreviventes das demissões em massa na Capcom. As alternativas seriam:

- Criar um novo jogo de Survivor Horror, pois com o lançamento de The Evil Within, Resident Evil iria despencar no mercado, perdendo público para outro jogo do mesmo estilo que criou.
- Recriar Resident Evil, o que sugere Remake ou Reboot.
Decidi que o melhor seria encontrar uma opção a mais, uma alternativa diferente e quem sabe, mais eficiente. Então assim eu pensei no que faria se essa “bomba” estivesse em minhas mãos e cheguei à conclusão de que continuaria com a franquia de Resident Evil, mas não iria fazer Remakes, nem Reboot. Ao contrário disso, eu lançaria um novo jogo com uma aventura alternativa, um novo tema dentro desse mundo, não apenas mais um spin-off baseado em vírus, bioterroristas e ameaças globais. Nada de vírus, nada de armas biológicas, nada de militares e nada de ação correndo e atirando em tudo que se move com direito a Head Shots e peripécias acrobáticas durante as corridas.

A melhor opção dentro dessa minha ideia seria adotar algum dos personagens já criados e colocá-lo em um panorama diferente vivendo uma história nova e totalmente inédita. Creio que os fãs mais saudosos iriam pular de alegria com a minha escolha para o protagonista. Outro ponto a ser destacado seria a jogabilidade, o estilo de jogo, como manter o ritmo dos jogos atuais e ao mesmo tempo acrescentar o velho Survivor à história? O resultado que imaginei foi esse:

- Manteria o mesmo estilo de jogo de Resident Evil 6 no que se diz respeito aos comandos sobre os personagens. Ou seja, a forma como eles correriam pelo cenários, ataques físicos, saltar para os lados, para trás, rolar para frente, isso seria mantido.
- Mudaria o esquema das armas e munição. Cada personagem carregaria apenas uma pistola e uma arma de dano pesado secundária. A pistola nunca seria descartada, e a arma secundária caso fosse encontrada uma outra pelo caminho deveria ser substituída pela atual se esse fosse o gosto do jogador, que escolheria qual manter. Também acrescentaria armas de dano físico, e o jogador poderia carregar uma de cada vez, sempre substituindo a que estivesse usando por outra caso encontrasse mais pelo jogo. Não haveria munição infinita para nenhuma arma, em nenhum modo de jogo, nem mira automática ou upgrades de precisão e dano.
- Os personagens carregariam uma lanterna, o jogo teria muitos lugares escuros para explorar e muitos deles não revelariam itens sem serem iluminados de perto.
- O sistema de cura seria modificado para pomadas feitas com as ervas encontradas no jogo, o personagem teria um limite de pomadas que poderia carregar e precisaria parar para se curar. Indicadores de cansaço (uma barra para corridas, escorregões, andar dependurado em vigas e escaladas) também se restabeleceria com o uso dessas pomadas.

Tendo em vista essas modificações, seria a hora de mostrar um Resident Evil totalmente novo em termos de história. E quem melhor para protagonizar esse recomeço que a sumida Claire Redfield? Isso mesmo, ela e um personagem inédito surgiriam revivendo o jogo, mas não como as duplas dos jogos recentes. Embora usassem um sistema de movimento e tiro muito parecidos, os dois andariam separados, por caminhos distintos e com objetivos distintos. Assim como em Resident Evil 2, suas histórias se cruzariam em diversos momentos e eles se ajudariam nessas horas de aperto até se encontrarem no final. Mas eis a história que surgiria, resumida.

- Claire aparece com 30 anos em uma cidade no meio do nada, provavelmente na África, lugar ótimo pra algumas histórias de terror. Ela ainda usa rabo de cavalo, jaqueta rosa, calças jeans, botas e anda de motocicleta e aparentemente estaria procurando um grupo humanista qual deveria se ingressar. A cena inicial dela mostraria ela em uma lanchonete conversando com a balconista e pedindo informações.
- O outro personagem seria um sujeito negro, civil, porte físico médio. O mesmo estaria na mesma lanchonete e se ofereceria para guiá-la até o centro humanista e ela aceitaria, mas antes iriam tomar um café. Passado o começo da apresentação dos personagens uma estranha mulher negra, gorda, forte, com vestimentas características da região e touca na cabeça entra correndo na lanchonete, ferida e com sangue escorrendo pelo rosto. Ela agarra Claire e diz que todos morrerão e que eles devem, a ruiva e o sujeito ao seu lado, fugir dali. Ela retira um colar do pescoço e o coloca no pescoço de Claire, que tenta evitar, mas não consegue negar o presente. A mulher diz que apenas aquilo poderá mantê-la à salvo.
- Uma música tribal começa a tocar, com direito ao som de tambores e uivos ao fundo. A mulher se afasta e entra em transe, seus olhos viram e ela começa a ter espasmos. Ela cai ao chão e assim que se levanta sua expressão está completamente mudada, ela está totalmente furiosa e agressiva e salta pra cima de Claire, agarrando-a no pescoço. A ruiva tenta se libertar, mas não consegue. O sujeito ao seu lado tenta ajudá-la, mas a mulher lhe dá um soco e o lança ao chão. O mesmo levanta, dá ordem para que ela se afaste e como a mesma não o obedece e Claire está quase morrendo sendo estrangulada o sujeito saca de uma arma e atira na cabeça da atacante. A mulher então cai sem vida ao chão enquanto o outro vai ajudar a ruiva que ainda recupera o fôlego. Claire pergunta o que está havendo, mas ele faz sinal com a cabeça que não sabe. Então a balconista, do lado de dentro do balcão de madeira, fala com uma voz grossa e assustadora dizendo “Vocês vão morrer!”. Nesse momento Claire e o sujeito percebem que todos na pequena lanchonete estão naquele transe. Eles saem correndo pela porta da frente, um jipe os aguarda e o sujeito chama a mulher para ir com ele, mas ela se nega a deixar sua moto, dizendo que irá acompanhá-lo. O mesmo então apanha um rádio de dentro do jipe e lhe entrega, dizendo que é para ela não perder contato com ele. Por fim ele entra no jipe e acelera enquanto a ruiva acelera a Harley Davidson Fat Boy e o segue.
- Porém, como sempre, algo dá errado e quando eles vão virar a esquina, um carro vem em alta velocidade e colide contra o jipe, lançando-o capotando pela rua. A mulher para a moto e fica observando enquanto o motorista do veículo sai debaixo do carro de cabeça para baixo e corre até um muro, pulando por ele. O rádio na cintura da mulher emite um chiado e então a voz do sujeito começa a aparecer meio rouca. Ele lhe diz que a delegacia da cidade fica ao sul e que ela pode encontrá-lo lá. Claire sai cantando pneus com a moto e a demo de abertura termina.
- Embora possa sugerir algo como Resident Evil 5, pela localidade ou como o leitor tenha imaginado a cena, a ideia é totalmente radical e diferente. Nessa história, Claire e o personagem que dividirá a aventura com ela (cujo nome eu não pensei), deverão se encontrar com outro tipo de inimigo. Os vilões da história usam de magia negra antiga para dominar a cidade.
- Zumbis surgem aos montes, mas diferentes dos velhos zumbis criados pelo T-Virus, esses são mais fortes e resistentes (ainda que o ponto fraco seja a cabeça, como sempre, um bom tiro nos miolos e está tudo resolvido).
- Além disso, outro fator surge pressionando os heróis: a possessão. Qualquer aliado pode ser possuído a qualquer momento e se tornar um inimigo. Qualquer grupo de pessoas ajudadas pode se tornar um grupo de zumbis violentos e sedentos por morte – sim, morte, porque esses zumbis não querem se alimentar, eles querem apenas matar.
- E pra piorar, os mortos podem ser ressuscitados por feiticeiros espalhados pela cidade, ou seja, em um grupo de inimigos com um feiticeiro presente, se matar um inimigo antes de matar o maldito, ele iria trazer o mesmo de volta à vida.
- Por fim, várias localidades são amaldiçoadas e totens e runas fortalecem os espíritos que possuem os cidadãos, tornando-os em um tipo de zumbi ainda mais poderoso.

Mas aí você pergunta: E onde está a ideia original de Resident Evil/Bio Hazard? Onde está o “Risco Biológico” na história? Eis a explicação:
- Claire e o outro protagonista da história iriam encontrar ao longo de sua jornada diversos outros personagens que os levariam a crer que estavam enfrentando espíritos malignos, pessoas supersticiosas e amedrontadas que temem o mal e temem por suas almas passariam essas informações. Coloque dessa forma: Claire (vamos nos ater a ela como exemplo) andará durante o jogo com poucas armas, munição escassa, por lugares sombrios e úmidos, com medo de confiar em qualquer um (depois de ver a primeira possessão e um aliado se tornando um inimigo sanguinário, lá se vai a confiança) e com um nó na garganta imaginando onde pode encontrar o próximo inimigo, sem saber de que buraco escuro o mesmo pode sair.
- Ao final da trama ambos descobrem que não se tratava de espíritos ou algo assim no foco do terror principal. A verdade era que o líder seita Hoodoo, um homem influente conhecido como feiticeiro e curandeiro local, haveria infectado toda a população com um novo tipo de vírus que ele havia adquirido no mercado negro, aos outros e também à si mesmo. Esse novo tipo de vírus causaria uma aceleração desenfreada das ondas cerebrais, permitindo que o mesmo controlasse outras pessoas contaminadas à distância. Uma pessoa normal infectada morreria caso tentasse acelerar seus próprios pensamentos, mas ele, o vilão, com a ajuda de ervas e poções era capaz de aumentar em muito suas capacidades, controlando diversas pessoas com a mente ao mesmo tempo. Isso seria melhor explicado na cena final, pois após ser derrotado por Claire e o outro protagonista, o mesmo tentaria uma última vez acelerar suas ondas cerebrais e incapaz de controlar o fluxo ele morreria vítima de seu próprio poder, sofrendo um quadro de A.V.C. imediata.
- O vírus teria sido disseminado na população pelas poções e remédios distribuídos pelo próprio vilão para a população que o respeitava e admirava.
- O vírus também explicaria o porquê de alguns inimigos ao morrerem, “ressuscitarem” sob o comando dos feiticeiros. Na verdade eles apenas estariam reagindo de forma diferente aos efeitos do vírus em seu corpo, após levantarem eles morreriam de novo em pouco tempo independente do que acontecesse.
- Na cena final o novo protagonista e novo amigo de Claire revelaria ser um policial, um helicóptero apareceria para levá-lo embora e ela ficaria o observando partir.
- Após o mesmo ter partido a mulher faria uma ligação do alto do prédio onde estivesse para Chris lhe informando sobre os acontecimentos e pedindo a ajuda da B.S.A.A. para a cidade em ruínas. Isso revelaria uma relação com os outros jogos da linha, mostrando que mesmo com todo o suspense e terror vivido pela personagem nessa aventura, ela ainda estaria em um Resident Evil como os outros.
- Antes de entrar nos créditos, Claire se lembraria de que havia achado a carteira do outro protagonista e que esquecera de lhe entregar. Olhando curiosa para o objeto de couro em suas mãos, a mesma a abriria e para sua surpresa veria um cartão da Umbrella com a foto e outro nome do sujeito estampados nele. A expressão de surpresa no rosto de Claire seria a última parte do final antes dos créditos iniciarem.
- Após os créditos, Claire apareceria sentada em sua moto, desligando o celular após falar com alguém. Ela o colocaria no bolso e quando se virasse para dar partida o medalhão que a mulher lhe dera no início apareceria em seu pescoço. A câmera então focaria seus olhos azuis e aproximaria mostrando a cor mudar de azul para vermelho. Ela daria partida na moto e sairia acelerando por uma longa estrada margeada de deserto pelos dois lados. E o jogo terminaria.

E enfim, essa seria a minha ideia para não perder Resident Evil em meio ao novo mercado de jogos da atualidade. Se o título fosse bem aceito, criaria talvez mais um ou dois, mas focado no estilo de Survivor Horror. De qualquer forma, nada de duplas andando juntas (multiplayer cooperativo sim, claro, mas cada um em uma área, com direito a chat para se comunicarem e a possibilidade de deixar ítens no chão em qualquer lugar para que o outro pudesse passar e apanhá-lo) e nada de facilidades. Se o assunto é sobreviver, dar tudo na mão não é uma opção.


Créditos do Artigo: #Dan_Yukari