Essa semana vi em vários blogs sobre a entrevista que o criador da série Resident Evil deu para o site Games Industry, onde falou de seu novo trabalho, The Evil Within e sobre sua experiência trabalhando na América, bem como mencionou o game Resident Evil. Procurei pela entrevista na íntegra e decidi falar sobre o que li aqui para vocês, pois embora o assunto em foco não seja Resident Evil, estamos falando do mestre do Survivor Horror (já que ele criou o estilo, só pode ser mesmo o mestre, certo?), Shinji Mikami.
Shinji não estava envolvido em nenhum projeto desde 2005, quando assumira a direção de Resident Evil 4 pela Capcom. Depois de trabalhar em iniciativas em outras empresas, Shinji está finalmente de volta ao gênero que criou, desta vez pela Tango Gameworks, empresa que foi adquirida pela Bethesda Softworks e pela qual está desenvolvendo seu novo trabalho, The Evil Within, que deve ser lançado ano que vem para PC e para os consoles da nova geração. Mikami foi entrevistado pelo pessoal da Games Industry durante sua participação na E3 desse ano, onde falaram sobre seu novo jogo e sobre porque os desenvolvedores ocidentais estão à frente dos estúdios japoneses atualmente.
Para Mikami a diferença era óbvia desde quando trabalhava para a Capcom do Japão. Os jogos estavam se tornando grandes projetos e exigiam muitos recursos, fosse para a criação ou para a divulgação no mercado. Criar jogos tornou-se algo mais arriscado e os japoneses não estavam dispostos a correr esses riscos como os desenvolvedores ocidentais. Em uma conversa com o presidente da Capcom na época, Kenzo Tsuijimito, o mesmo lhe havia dito que o desenvolvimento de jogos estava se tornando muito caro e uma empresa japonesa não iria investir 30 milhões de dólares em um projeto.
Desde aquela época Mikami já observava que os americanos estavam dispostos a investir nesse mercado e pensou “Se esse investimento for feito, podemos ganhar muito com isso”. A Bethesda Softworks não divulgou o orçamento do desenvolvimento e marketing de The Evil Within, mas se formos arriscar, pelas declarações de Mikami, está claro que é algo próximo dos 30 milhões de dólares. Mikami declarou estar muito feliz trabalhando com uma empresa ocidental, mas afirma que ainda há muitas coisas boas nas empresas japonesas. Ele também diz que seria bom se os japoneses se abrissem mais às tecnologias ocidentais se isso fosse para o melhor desenvolvimento. “Seria melhor se as empresas japonesas fossem mais flexíveis quanto a incorporação de tecnologias ocidentais” – disse ele.
Shinji disse que depois de trabalhar por anos com o estilo Survivor ele já não tinha mais motivação para continuar, mas durante o tempo em que ficou parado ele viu muitas coisas que não concordava sobre o estilo que havia criado. Quando indagado sobre Resident Evil, o mesmo apenas disse que “A Capcom começou a levar Resident Evil em uma direção diferente” e que não estava autorizado a fazer críticas. Mas ver o caminho para onde os jogos estavam seguindo lhe inspirou a voltar e mostrar o verdadeiro estilo de Horror e Sobrevivência.
O mestre ainda disse que acredita que esse é o momento perfeito para trazer o Survivor Horror de volta, pois a tecnologia recente tem a capacidade de oferecer gráficos e imagens muito mais realistas, o que é uma tremenda vantagem sobre os títulos lançados no passado. Ele acredita também que a evolução de tecnologias como o Kinect podem ser muito úteis, pois o acessório poderia reconhecer expressões faciais e também os batimentos cardíacos do jogador e dessa forma o jogo responderia de acordo com as reações de quem o estivesse jogando. Isso seria o passo definitivo para se criar um verdadeiro Survivor Horror, segundo ele.
Quando indagado sobre o quesito violência, Mikami diz que não está preocupado com isso. Jogos de sobrevivência nunca poderiam ser não violentos, mas ele diz que não está criando algo baseado em moral e sim algo focado unicamente no entretenimento. Nas palavras do mesmo, se alguém quer moral, deve procurá-la em uma escola ou algo do gênero. Nesse ponto é interessante lembrar que ao contrário do Brasil, onde a Educação Moral e Cívica saiu das matérias do currículo escolar, no Japão, Moral é ensinada nas escolas, assim como Idiomas e Matemática.
Mikami ainda disse que embora esteja atolado em trabalho com o desenvolvimento de The Evil Within, ele gostaria de trabalhar em algo voltado para telemóveis algum dia. Não seria um estilo Survivor, pois segundo ele esse estilo não fica bem em telas pequenas, mas se tivesse a autorização da administração, gostaria muito de trabalhar em algo com aparelhos móveis mais tarde.
Já no final da entrevista Shinji disse ainda que as pessoas não devem esperar que as experiências com Resident Evil estejam saindo de linha com o novo jogo. Segundo ele pretende, os conceitos são os mesmos, o jogador encarna um personagem, vive seus medos e triunfa sobre eles. A diferença está na história, enquanto em Resident Evil o que se temia eram os zumbis, as armas biológicas e os vírus, em The Evil Within o medo é mais ligado à mente humana, um medo mais psicológico, como o mal existindo dentro da alma humana. Essa é a grande diferença entre os dois jogos, explica ele.
Por fim, acredito que a entrevista do mestre do Survivor Horror foi muito mais do que os trechinhos minúsculos que apareceram nos blogs grandes e que os blogs pequenos postaram na base do Ctrl+C, Ctrl+V. Em minha opinião, The Evil Within deve ser um grande jogo, mas não irá mover empresas e gerar títulos e ideias como Resident Evil fez no passado. Também acho que Mikami não é a pessoa mais indicada para criticar os rumos que a Capcom deu à Resident Evil, pois ele mesmo começou esse estilo de jogo atual em Resident Evil 4. Finalizando, acredito que Resident Evil ainda tem muito o que mostrar e deve permanecer por muito tempo com novos títulos surgindo no mercado ainda e se tudo der certo The Evil Within também entrará para essa lista de games conceituados.
Para os interessados em ler a entrevista de Shinji Mikami na íntegra, Clique Aqui, mas lembrem-se que a entrevista original está em inglês. É isso aí, pessoal, espero ter sido mais claro que a maioria foi, afinal, não me pareceu que o mestre do Survivor tinha intenções de falar mal de Resident Evil, como alguns blogs mencionaram. O fato de ele dizer que não podia fazer críticas (alguns blogs colocaram a expressão “Não posso dizer coisas ruins”, mal de google tradutor), não significa que ele ia dizer que a saga está ruim. Mas enfim, isso é algo que não iremos saber, pelo menos não oficialmente.
Até a próxima, e vamos torcer para que o mercado de games cresça com jogos como Resident Evil e The Evil Within e que não sejam exclusivos, pois todos somos gamers e não importa a plataforma que usamos, queremos mais é jogar.
Créditos do artigo: Dan Yukari